Suavidade Transcendental

Nesta segunda divisão do Bhakti-rasāmṛta-sindhu, o autor oferece suas respeitosas reverências a “Sanātana”. Este Sanātana pode ser interpretado como o próprio Śrī Kṛṣṇa ou como Sanātana Gosvāmī, o irmão mais velho e mestre espiritual de Rūpa Gosvāmī. No caso em que “Sanātana” é aceito como significando Śrī Kṛṣṇa, as reverências são oferecidas a Kṛṣṇa porque Ele é naturalmente tão belo e porque Ele é o assassino do demônio Agha. Se for interpretado como significando Sanātana Gosvāmī, então é porque ele é muito favorecido por Rūpa Gosvāmī, sendo sempre servido por ele, e porque ele é o aniquilador de todos os tipos de atividades pecaminosas. Nesta divisão do Bhakti-rasāmṛta-sindhu, o autor deseja descrever os sintomas gerais da suavidade transcendental (humor amoroso) do cumprimento do serviço devocional.

Nesta divisão do Bhakti-rasāmṛta-sindhu há cinco tópicos gerais: (1) vibhāva – sintomas ou causas especiais de êxtase, (2) anubhāva – êxtase subsequente, (3) sāttvika-bhāva – êxtase constitucional ou existencial, (4) vyabhicārī-bhāva – êxtase agressivo e (5) sthāyi-bhāva – êxtase fervoroso ou contínuo.

A palavra rasa, usada no Bhakti-rasāmṛta-sindhu, é entendida por diferentes pessoas de maneira diferente porque o equivalente exato em inglês é muito difícil de encontrar. Mas como vimos o nosso mestre espiritual traduzir esta palavra rasa para “suave”, seguiremos os seus passos e também traduziremos a palavra dessa forma.

O humor ou atitude amorosa específica apreciada na troca de amor com a Suprema Personalidade de Deus é chamada de rasa, ou suavidade. Os diferentes tipos de rasa, quando combinados, ajudam a pessoa a saborear a suavidade do serviço devocional no mais alto grau de êxtase transcendental. Tal posição, embora inteiramente transcendental à nossa experiência, será explicada nesta seção, tanto quanto possível, seguindo os passos de Śrīla Rūpa Gosvāmī.

Sem saborear algum tipo de humor suave ou amoroso em suas atividades, ninguém pode continuar a realizá-las. Da mesma forma, na vida transcendental da consciência de Kṛṣṇa e no serviço devocional deve haver algum sabor suave ou específico no serviço. Geralmente essa suavidade é experimentada cantando, ouvindo, adorando no templo e estando engajado no serviço ao Senhor. Portanto, quando uma pessoa sente felicidade transcendental, isso se chama “apreciar a suavidade”. Para sermos mais claros, podemos compreender que os vários sentimentos de felicidade derivados do cumprimento do serviço devocional podem ser chamados de “suavidades” do serviço devocional.

Esse prazer da suavidade transcendental no desempenho do serviço devocional não pode ser experimentado por todas as classes de homens, porque esse doce humor amoroso é desenvolvido apenas a partir das atividades de uma vida anterior ou pela associação de devotos imaculados. Conforme explicado acima, a associação com devotos puros é o início da fé no serviço devocional. Somente desenvolvendo tal fé na associação com um devoto puro, ou tendo executado atividades devocionais em uma vida anterior, é que alguém poderá realmente saborear a suavidade do serviço devocional. Em outras palavras, essa bem-aventurança transcendental não deve ser desfrutada por nenhum homem comum, a menos que ele seja tão extraordinariamente afortunado a ponto de estar em associação com devotos ou de continuar as atividades devocionais de seu nascimento anterior.

O processo gradual de desenvolvimento até o estágio de serviço devocional é explicado no Śrīmad-Bhāgavatam , Primeiro Canto: “O começo é ouvir sobre o Senhor Kṛṣṇa na associação de devotos que purificaram seus corações por associação. Ouvir sobre as atividades transcendentais do Senhor resultará no sentimento de bem-aventurança transcendental sempre.” Também é explicado no Bhagavad-gītā que, para alguém que realmente chegou à plataforma espiritual, o primeiro sintoma visível será que ele está sempre alegre. Esta vida alegre é alcançada pela reação da pessoa à leitura do Bhagavad-gītā ou do Śrīmad-Bhāgavatam , ou então pela associação com pessoas que estão muito interessadas na vida espiritual da consciência de Kṛṣṇa – especificamente aquelas que tomaram a determinação de alcançar o favor de Govinda por meio de estar ocupado em serviço amoroso transcendental a Seus pés de lótus. Encorajado por tal sentimento, aquele que está constantemente ocupado em cumprir os princípios reguladores do serviço devocional de modo a agradar a Suprema Personalidade de Deus desenvolve dois princípios de força compulsória, que se enquadram no título de vibhāva. Assim, desfruta-se da bem-aventurança transcendental.

Existem várias origens ou causas para esse amor compulsivo por Kṛṣṇa, como o próprio Kṛṣṇa, os devotos de Kṛṣṇa e o toque de flauta de Kṛṣṇa. O efeito às vezes é amoroso e às vezes atrofiado.

Existem oito sintomas transcendentais encontrados no corpo durante o êxtase, e todos eles só são possíveis por meio de uma mistura das cinco divisões extáticas mencionadas acima. Sem alguma mistura desses cinco princípios extáticos, não se pode saborear a bem-aventurança transcendental. A causa ou base para saborear a doçura transcendental é exatamente o que entendemos por vibhāva. Este vibhāva é dividido em dois – a saber, básico e impulsionador, ou que dá ímpeto. No Agni Purāṇa a descrição de vibhāva é dada da seguinte forma: “A base da qual nasce o amor extático é chamada vibhāva, que é dividida em duas – básica e impulsionadora.” Em outras palavras, existem dois tipos de amor extático. O objeto do amor extático básico é Kṛṣṇa e Seu devoto. O Senhor Kṛṣṇa é o objeto do amor extático básico, e Seu devoto puro, um reservatório desse amor, é o objeto de impulsionar o amor extático. O amor extático que impulsiona, então, é aquele amor que se desenvolve quando alguém vê um objeto que o lembra de Kṛṣṇa.

O Senhor Kṛṣṇa, que é o possuidor de potências e qualidades inconcebíveis de conhecimento e bem-aventurança transcendentais, é a causa básica do amor extático. O Senhor Kṛṣṇa também se torna o reservatório (ímpeto) do amor extático por meio de Suas diferentes encarnações e expansões. No Śrīmad-Bhāgavatam há uma declaração relacionada ao brahma-vimohana-līlā que demonstra algo dessa característica impulsionadora ou que dá ímpeto do amor extático. Quando Brahmā foi iludido por Kṛṣṇa, que se expandiu em tantos vaqueirinhos, bezerros e vacas, o irmão mais velho de Kṛṣṇa, Śrī Baladeva (uma expansão direta do próprio Kṛṣṇa), ficou surpreso e disse: “Como é maravilhoso que Meu amor extático por Kṛṣṇa está novamente sendo atraído por tantos vaqueirinhos, bezerros e vacas!” Ele ficou surpreso ao pensar dessa maneira. Este é um dos exemplos em que o próprio Kṛṣṇa se torna o objeto e reservatório do amor extático no aspecto impulsionador.

Guia para estudos:

1- Explique sobre as reverências que o autor oferece a Sanatana.

2- Aqui começa a segunda parte do livro. Quais são os cinco temas gerais desta divisão?

3- você sente que sua atração por krsna está aumentando ao estudar este livro?

Material complementar para estudos: