Śrīla Śrīdhara Svāmī compôs um belo verso sobre isso: “Que os outros se ocupem em severas austeridades, que os outros se joguem das colinas e caiam no chão cometendo suicídio, que os outros viajem a muitos lugares santos de peregrinação em busca da salvação ou se ocupem em estudos profundos de filosofia e literatura védica. Que os yogīs místicos se ocupem em suas meditações e que as diferentes seitas se envolvam em discussões inúteis sobre qual delas é a melhor. Não obstante, é fato que, a menos que a pessoa seja consciente de Kṛṣṇa e se ocupe em serviço devocional, e a menos que ela receba a misericórdia da Suprema Personalidade de Deus, não lhe é possível cruzar o oceano material”. Logo, uma pessoa inteligente abandona todas as ideias estereotipadas e une-se ao Movimento para a Consciência de Kṛṣṇa para lograr a libertação verdadeira.

Os Vedas personificados continuaram suas orações: “Querido Senhor, Sua característica impessoal é explicada nos Vedas. Você não tem mãos, mas pode aceitar todos os sacrifícios que Lhe são oferecidos. Você não tem pernas, mas pode caminhar mais rapidamente do que qualquer pessoa. Embora não tenha olhos, Você pode ver tudo o que se passa no passado, no presente ou no futuro. Conquanto não tenha ouvidos, Você pode ouvir tudo o que é dito. Apesar de não ter mente, Você conhece todos e suas atividades no passado, presente e futuro, a despeito do que ninguém sabe quem Você é. Você conhece todos, mas ninguém O conhece; logo, Você é o mais velho e a personalidade suprema”.
Da mesma forma, em outra parte dos Vedas, é dito: “Você não tem nada a fazer. Você é tão perfeito em Seu conhecimento e potência que tudo se manifesta unicamente devido à Sua vontade. Não existe alguém superior ou igual a Você, e todos agem como Seus servos”. Portanto, os enunciados védicos descrevem que a Verdade Absoluta não tem pernas, mãos, olhos, ouvidos ou mente e, no entanto, Ele pode agir através de Suas potências e satisfazer as necessidades de todas as entidades vivas. Como enunciado no Bhagavad-gītā, Suas mãos e pernas estão em toda parte, pois Ele é onipresente. As mãos, pernas e olhos de todas as entidades vivas estão agindo e se movendo pela direção da Superalma, que está sentada dentro do coração da entidade viva. A menos que a Superalma esteja presente, não é possível para as mãos e pernas serem ativas. A Suprema Personalidade de Deus é tão grande, independente e perfeito que, mesmo sem ter quaisquer ouvidos, pernas ou olhos, Ele não depende dos outros para agir. Por outro lado, os outros são dependentes dEle para as atividades de seus órgãos dos sentidos. A menos que a entidade viva seja inspirada e dirigida pela Superalma, ela não pode agir.
O fato é que, por fim, a Verdade Absoluta é a Pessoa Suprema. Contudo, porque Ele age através de Suas diferentes potências, que são impossíveis de serem vistas pelos materialistas grosseiros, estes O aceitam como impessoal. Por exemplo, a pessoa pode observar o trabalho artístico pessoal em uma pintura de uma flor e pode compreender que o arranjo de cores e forma exigiu a atenção minuciosa de um artista. A obra do artista está claramente exibida na pintura de diferentes flores desabrochando. No entanto, o materialista grosseiro, sem ver a mão de Deus nas manifestações artísticas, como o desabrochar de flores naturais, conclui que a Verdade Absoluta é impessoal. De fato, o Absoluto é pessoal, mas Ele é independente. Ele não precisa tomar pessoalmente um pincel e cores para pintar as flores, pois Suas potências agem tão maravilhosamente que parece que as flores vieram à existência sem a ajuda de um artista. A visão impessoal da Verdade Absoluta é aceita por pessoas menos inteligentes porque, a não ser que alguém esteja ocupado a serviço do Senhor, não lhe será possível entender como o Supremo age – não se pode conhecer nem mesmo o nome do Senhor. Tudo sobre as atividades e os aspectos pessoais do Senhor é revelado ao devoto unicamente por meio da atitude de serviço devocional amoroso.
O Bhagavad-gītā diz claramente que, bhoktāraṁ yajña-tapasām: “O Senhor é o desfrutador de todos os sacrifícios e dos resultados de todas as austeridades”. E o Senhor também afirma, sarva-loka-maheśvaram: “Eu sou o proprietário de todos os planetas”. Eis a posição da Suprema Personalidade de Deus. Enquanto Ele está presente em Goloka Vṛndāvana desfrutando prazer transcendental em companhia de Seus associados íntimos – as gopīs e os vaqueirinhos – Suas potências, em toda a criação, estão agindo sob Sua direção, sem interferir em Seus passatempos eternos.

Unicamente através do serviço devocional pode-se compreender como a Suprema Personalidade de Deus, por meio de Suas potências inconcebíveis, age de forma simultaneamente impessoal e pessoal. Ele age exatamente como o imperador supremo, e muitíssimos milhares de reis e governantes trabalham sob Seu comando. A Suprema Personalidade de Deus é a pessoa controladora, independente e suprema, e todos os semideuses, incluindo o senhor Brahmā, o senhor Śiva, Indra (o rei dos céus), o rei do planeta Lua e o rei do planeta Sol, trabalham sob a Sua direção. Os Vedas confirmam que é devido ao medo da Suprema Personalidade de Deus que o Sol brilha, o vento sopra e o fogo distribui calor. A natureza material produz todas as espécies de objetos móveis e imóveis dentro do mundo material, mas nenhum deles pode agir independentemente ou criar sem a direção do Senhor Supremo. Todos eles agem como Seus auxiliares, como reis subordinados que oferecem seus tributos anuais ao imperador.
As injunções védicas enunciam que todas as entidades vivas sobrevivem por comer os restos do alimento oferecido à Personalidade Suprema. Em grandes sacrifícios, a injunção é que Nārāyaṇa deve estar presente como a Deidade predominante suprema do sacrifício, e, depois do sacrifício ser realizado, os restos de alimento são distribuídos entre os semideuses. Isso é chamado yajña-bhāga. Cada semideus recebe seu quinhão de yajña-bhāga, que ele aceita como prasāda. A conclusão é que os semideuses não são independentemente poderosos: eles são nomeados como diferentes executores sob a ordem da Suprema Personalidade de Deus e comem prasāda, ou os restos dos sacrifícios. Eles executam as ordens do Senhor Supremo exatamente de acordo com o Seu plano. A Suprema Personalidade de Deus está nos bastidores e, porque Suas ordens são cumpridas pelos outros, parece que Ele é impessoal. Na nossa visão materialista grosseira, não podemos conceber como a Pessoa Suprema está além das atividades impessoais da natureza material. Em consequência, o Senhor explica no Bhagavad-gītā que não há nada superior a Ele, e que o Brahman impessoal está subordinadamente situado como uma manifestação de Seus raios pessoais. Śrīpāda Śrīdhara Svāmī compôs um verso sobre isso: “Permita-me oferecer minhas respeitosas reverências à Suprema Personalidade de Deus, que não possui sentidos materiais, mas através de cuja direção e vontade todos os sentidos materiais estão funcionando. Ele é a potência suprema de todos os sentidos materiais ou órgãos sensoriais. Ele é onipotente e o executor supremo de tudo. Por conseguinte, Ele é adorável por todos. A essa Pessoa Suprema, eu ofereço minhas respeitosas reverências”.
O próprio Kṛṣṇa declara no Bhagavad-gītā que, como Ele é transcendental a todos os seres conscientes e inconscientes, Ele é conhecido como Puruṣottama, que significa “Personalidade Suprema”. (Puruṣa significa “pessoa”, e uttama quer dizer “suprema”, ou “transcendental”.) Em outro trecho, o Senhor afirma que, assim como o ar está situado no céu onipenetrante, todos estão nEle, e todos agem sob Sua direção.
Os Vedas personificados continuaram: “Querido Senhor”, eles oraram, “Você é equânime para com todos, sem parcialidade para com um tipo específico de entidade viva. É apenas devido aos seus desejos materiais que todas as entidades vivas desfrutam ou sofrem em diferentes condições de vida. Como Suas partes integrantes, elas são exatamente como partículas de fogo. Da mesma forma que centelhas dançam no fogo ardente, todas as entidades vivas estão dançando sob Sua proteção. Você está fornecendo tudo o que elas desejam. No entanto, Você não é responsável pela posição delas em desfrute ou sofrimento. Há diversos tipos de entidades vivas – semideuses, seres humanos, animais, árvores, pássaros, feras, germes, vermes, insetos e seres aquáticos – e todos desfrutam ou sofrem na vida enquanto repousam em Você”.
As entidades vivas são de dois tipos: uma classe é chamada nitya-mukta, “sempre liberta”, e a outra é chamada nitya-baddha, “sempre condicionada”. As entidades vivas nitya-mukta estão no reino espiritual, e as entidades vivas nitya-baddha estão no mundo material. No mundo espiritual, tanto as entidades vivas como o Senhor se manifestam em seu estado original, como centelhas vivas em um fogo abrasador. Contudo, no mundo material, embora o Senhor seja onipresente em Seu aspecto impessoal, as entidades vivas esqueceram sua consciência de Kṛṣṇa, em um maior ou menor grau, exatamente como as centelhas às vezes afastam-se do fogo abrasador e perdem sua condição brilhante. As centelhas caem de suas diferentes condições e retêm mais ou menos seu brilho original. Algumas centelhas caem na grama seca e, assim, dão início a um grande incêndio. Essa é uma referência aos devotos puros, os que têm compaixão das pobres entidades vivas inocentes. Os devotos puros incendeiam a consciência de Kṛṣṇa nos corações das almas condicionadas, motivo pelo qual o fogo abrasador do mundo espiritual se manifesta, mesmo neste mundo material. Algumas centelhas caem na água; elas imediatamente perdem seu brilho original e se extinguem. Essas são comparáveis às entidades vivas que nascem no meio de materialistas grosseiros, quando sua consciência de Kṛṣṇa original se extingue. Algumas centelhas caem no chão e permanecem no meio-termo entre a condição de fogo e a condição de extinção. Por conseguinte, algumas entidades vivas estão sem consciência de Kṛṣṇa, outras estão entre ter ou não ter consciência de Kṛṣṇa e algumas estão de fato em consciência de Kṛṣṇa. Os semideuses dos planetas superiores – o senhor Brahmā, Indra, Candra, o deus do Sol e vários outros semideuses – estão todos em consciência de Kṛṣṇa. A sociedade humana está entre os semideuses e os animais, em virtude do que algumas pessoas são mais ou menos conscientes de Kṛṣṇa e algumas estão completamente esquecidas da consciência de Kṛṣṇa. As entidades vivas de terceira classe, a saber, os animais, feras, vegetais, árvores e seres aquáticos esqueceram completamente a consciência de Kṛṣṇa. Esse exemplo enunciado nos Vedas sobre as centelhas de um fogo abrasador é muito apropriado para a compreensão da condição dos diferentes tipos de entidades vivas. No entanto, acima de todas as entidades vivas, está a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, ou Puruṣottama, que é sempre livre de todas as condições materiais.Pode-se levantar a questão da razão pela qual as entidades vivas caíram, por acaso, em diversas condições de vida. Para responder essa pergunta, primeiro devemos entender que não pode haver qualquer influência do acaso sobre as entidades vivas; o acaso é para as entidades inertes. De acordo com a literatura védica, as entidades vivas têm conhecimento e, por isso, são chamadas de cetana, que significa “com conhecimento”. A situação delas em diferentes condições de vida, portanto, não é acidental – é em razão da escolha delas, porque elas têm conhecimento. No Bhagavad-gītā, o Senhor afirma: “Abandone tudo e renda-se a Mim”. Esse processo de compreender a Suprema Personalidade de Deus está aberto para todos, mas ainda é da escolha de uma determinada entidade viva aceitar ou rejeitar a proposta. Na última parte do Bhagavad-gītā, o Senhor Kṛṣṇa diz muito explicitamente a Arjuna: “Meu querido Arjuna, agora Eu já lhe falei tudo. Agora, você pode escolher aceitar ou não”. De igual modo, as entidades vivas que desceram a este mundo material fizeram sua própria opção de desfrutar este mundo material. O mundo material foi criado para o desfrute das entidades vivas que desejaram abandonar o serviço eterno do Senhor para se tornarem, elas mesmas, o desfrutador supremo. De acordo com a filosofia vaiṣṇava, quando uma entidade viva deseja ter gozo dos sentidos e esquece o serviço ao Senhor, ela recebe um lugar no mundo material para agir livremente consoante seu desejo e, dessa forma, ela cria uma condição de vida na qual ela desfruta ou sofre. Devemos saber, em definitivo, que tanto o Senhor como as entidades vivas são eternamente conscientes. Não há nascimento nem morte para o Senhor ou para as entidades vivas. Quando ocorre a criação, isso não significa que as entidades vivas sejam criadas. O Senhor cria o mundo material para proporcionar às almas condicionadas uma oportunidade para elevá-las à plataforma superior da consciência de Kṛṣṇa. Se uma alma condicionada não aproveita essa oportunidade, ela, após a dissolução deste mundo material, entra no corpo de Nārāyaṇa e permanece lá em sono profundo até o momento de outra criação.

Nesse contexto, o exemplo da estação das chuvas é bastante apropriado. As chuvas sazonais podem ser consideradas como a causa da criação porque, depois das águas das chuvas, os campos úmidos são favoráveis ao crescimento de diversos tipos de vegetação. De modo similar, assim que ocorre a criação, através do olhar do Senhor sobre a natureza material, imediatamente as entidades vivas surgem em suas distintas condições de vida, exatamente como diferentes tipos de vegetação crescem depois das chuvas. A chuva é única, mas a criação de diferentes plantas é variada. A chuva cai igualmente no campo inteiro, mas as diferentes plantas brotam em diversas formas e formatos de acordo com as suas sementes. Da mesma forma, as sementes de nossos desejos são variadas. Toda entidade viva tem um tipo específico de desejo, e aquele desejo é a semente que faz com que ela desenvolva certo tipo de corpo. Isso é explicado por Rūpa Gosvāmī por meio da palavra pāpa-bīja. Pāpa significa “pecaminoso”. Todos os nossos desejos materiais devem ser considerados pāpa-bīja, ou “sementes de desejos pecaminosos”. O Bhagavad-gītā explica que nosso desejo pecaminoso é que não nos rendemos ao Senhor Supremo. O Senhor, assim, afirma no Bhagavad-gītā: “Protegerei você das reações dos desejos pecaminosos”. Como esses desejos pecaminosos se manifestam em diferentes espécies de corpos, ninguém pode acusar o Senhor Supremo de parcialidade em dar um determinado tipo de corpo a certa espécie de entidade viva e outro tipo de corpo a outra entidade viva. Todos os corpos das oito milhões e quatrocentas mil espécies são criados de acordo com a condição mental das entidades vivas individuais. A Suprema Personalidade de Deus, Puruṣottama, apenas lhes proporciona um ensejo de agir consoante seus desejos. Portanto, as entidades vivas atuam tirando proveito da facilidade oferecida pelo Senhor.
Ao mesmo tempo, as entidades vivas nascem do corpo transcendental do Senhor. Essa relação entre o Senhor e as entidades vivas é explicada na literatura védica, onde se afirma que o Senhor Supremo mantém todos os Seus filhos dando-lhes tudo o que desejarem. De igual modo, no Bhagavad-gītā, o Senhor diz: “Eu sou o pai de todas as entidades vivas”. É muito simples compreender que o pai causa o nascimento dos filhos, mas os filhos agem de acordo com seus próprios desejos. Portanto, o pai nunca é responsável pelos diferentes futuros de seus filhos. Cada filho pode tirar proveito da propriedade e instrução do pai, mas, embora a herança e a instrução possam ser as mesmas para todos os filhos, devido aos seus diferentes desejos, cada filho cria uma vida diversa e, portanto, sofre ou desfruta.

De igual modo, as instruções do Bhagavad-gītā são iguais para todos: devemos nos render ao Senhor Supremo e Ele assumirá a responsabilidade, protegendo-nos das reações pecaminosas. As facilidades de viver na criação do Senhor são igualmente oferecidas para todas as entidades vivas. Tudo o que exista, quer na terra, quer na água, quer no céu, é igualmente distribuído para todas as entidades vivas. Visto que todas as entidades vivas são filhos do Senhor Supremo, todos podem desfrutar as facilidades materiais dadas pelo Senhor. No entanto, entidades vivas desafortunadas criam condições desfavoráveis de vida lutando entre si mesmas. A responsabilidade por essa disputa e pela criação de situações favoráveis e desfavoráveis diz respeito às entidades vivas, não à Suprema Personalidade de Deus. Por conseguinte, se as entidades vivas aproveitam-se das instruções do Senhor dadas no Bhagavad-gītā e desenvolvem consciência de Kṛṣṇa, então suas vidas se tornam sublimes e elas podem voltar ao Supremo.
Pode-se argumentar que, como este mundo material é criado pelo Senhor, Ele é responsável pelas suas condições. Por certo, Ele é indiretamente responsável pela criação e manutenção deste mundo material, mas nunca é responsável pelas diferentes condições das entidades vivas. A criação deste mundo material pelo Senhor é comparada à criação da vegetação por parte da nuvem. Na estação das chuvas, a nuvem cria distintas variedades de vegetais. Conquanto a nuvem derrame água na superfície da terra, nunca toca a terra diretamente. De modo semelhante, o Senhor cria este mundo material simplesmente através de Seu olhar sobre a energia material. Isso é confirmado nos Vedas: “Ele lança Seu olhar sobre a natureza material, em decorrência do que ocorre a criação”. No Bhagavad-gītā, também está enunciado que, simplesmente através de Seu olhar sobre a natureza material, Ele cria diferentes variedades de entidades, tanto móveis como imóveis, vivas e inertes.
A criação do mundo material pode ser considerada como um dos passatempos do Senhor. Ela é assim chamada porque Ele cria este mundo material sempre que deseja. Esse desejo da Suprema Personalidade de Deus é também Sua extrema misericórdia concedida às almas condicionadas para que tenham mais uma oportunidade de desenvolverem sua consciência original e, assim, voltarem ao Supremo. Dessa maneira, ninguém pode culpar o Senhor Supremo por criar este mundo material.
A partir do assunto em discussão, podemos ter uma compreensão clara da diferença entre os impersonalistas e os personalistas. A concepção impersonalista recomenda a fusão na existência do Supremo, e a filosofia do vazio recomenda tornar todas as variedades materiais em nulidade. Ambas as filosofias são conhecidas como māyāvādas. Certamente, a manifestação cósmica chega ao fim e torna-se nula quando as entidades vivas se fundem no corpo de Nārāyaṇa para repousarem até outra criação, mas essas condições nunca são eternas. A cessação da variedade do mundo material e a fusão das entidades vivas no corpo do Supremo não são permanentes, porque a criação ocorrerá novamente e as entidades vivas que se fundiram no corpo do Supremo sem terem desenvolvido sua consciência de Kṛṣṇa aparecerão novamente neste mundo material quando outra criação vier à existência. O Bhagavad-gītā confirma o fato de que este mundo material é criado e aniquilado perpetuamente e que as almas condicionadas, sem consciência de Kṛṣṇa, voltam repetidas vezes sempre que a criação material está manifesta. Se tais almas condicionadas aproveitam essa oportunidade e desenvolvem consciência de Kṛṣṇa sob a instrução direta do Senhor, elas são transferidas para o mundo espiritual e não precisam voltar à criação material. Afirma-se, portanto, que os niilistas e os impersonalistas não são muito inteligentes, porque eles não buscam o abrigo dos pés de lótus do Senhor. Como eles são menos inteligentes, esses niilistas e impersonalistas adotam diferentes tipos de austeridades, quer para alcançar o estágio do nirvāṇa, que implica na finalização das condições materiais de vida, quer para alcançar o estado de união, fundindo-se no corpo do Senhor. Todos eles voltam a cair porque desprezaram os pés de lótus do Senhor.

No Caitanya-caritāmṛta, o autor, Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī, depois de estudar todos os textos védicos e ouvir de todas as autoridades, deu sua opinião de que Kṛṣṇa é o único mestre supremo e que todas as entidades vivas são Seus servos eternos. Seu enunciado é confirmado pelas orações dos Vedas personificados. A conclusão, portanto, é que todos estão sob o controle da Suprema Personalidade de Deus, todos estão servindo sob a direção suprema do Senhor e todos temem a Suprema Personalidade de Deus. É devido ao temor a Ele que todas as atividades se executam corretamente. A posição de todos é subordinada ao Senhor Supremo; o Senhor, no entanto, não mostra qualquer parcialidade em Sua consideração para com as entidades vivas. Ele é exatamente como o céu ilimitado; assim como as centelhas de um fogo dançam no fogo, todas as entidades vivas são como pássaros que voam no céu ilimitado do Senhor Supremo. Algumas delas estão voando muito alto, outras estão voando não muito alto e algumas estão sobrevoando em baixa altitude. Os diferentes pássaros estão voando em diferentes posições de acordo com suas respectivas capacidades, mas o céu nada tem a ver com essa capacidade. No Bhagavad-gītā, o Senhor confirma que Ele concede posições distintas às diferentes entidades vivas de acordo com sua proporcional rendição. Essa recompensa proporcional oferecida pela Personalidade de Deus às diferentes entidades vivas não é parcialidade. Assim, apesar de as entidades vivas estarem sempre sob o controle da Suprema Personalidade de Deus em suas diferentes posições, esferas e espécies de vida, Ele nunca é responsável pelas suas diferentes condições de vida. É tolice e artificial, portanto, considerar-se igual ao Senhor Supremo, e é ainda mais tolo pensar que não se vê Deus. Todos estão vendo Deus de acordo com sua capacidade; a única diferença é que o teísta vê Deus como a Personalidade Suprema, o mais amado, Kṛṣṇa, e o ateísta vê a Verdade Absoluta como a morte derradeira.
Os Vedas personificados continuaram a orar. “Querido Senhor”, disseram eles, “a partir de toda a informação védica, compreende-se que Você é o controlador supremo, e todas as entidades vivas são controladas. Tanto o Senhor como as entidades vivas são chamadas nitya, ”eternas”, e são qualitativamente unas. A nitya singular, ou o Senhor Supremo, é o controlador, ao passo que as nityas plurais são controladas. A entidade viva individual controlada reside dentro do corpo, e o supremo controlador, como a Superalma, está presente lá também, mas a Superalma controla a alma individual. Esse é o veredito dos Vedas. Se a entidade viva não fosse controlada pela Superalma, como se poderia explicar a versão védica de que uma entidade viva transmigra de um corpo para outro, desfrutando e sofrendo os efeitos de suas ações passadas, ora sendo promovida para um padrão superior de vida, ora sendo degradada para um padrão inferior? Consequentemente, as almas condicionadas não estão apenas sob o controle do Senhor Supremo, mas também se encontram sob o controle da natureza material. Essa relação das entidades vivas com o Senhor Supremo, como as controladas e o controlador, definitivamente prova que, muito embora a Superalma seja onipresente, as entidades vivas individuais nunca são onipresentes. Se as almas individuais fossem onipresentes, não haveria razão para se considerá-las controladas. Desse modo, a teoria de que a Superalma e a alma individual são iguais é uma conclusão imperfeita. Nenhuma pessoa razoável pode aceitá-la; ao contrário, deve-se tentar compreender as diferenças entre o eterno supremo e os eternos subordinados”.
Portanto, os Vedas personificados concluíram: “Ó Senhor, Você é o eterno ilimitado (dhruva), e as entidades vivas são os eternos limitados”. A forma do eterno ilimitado é algumas vezes concebida como a forma universal, e a literatura védica, como os Upaniṣads, descreve vividamente a forma do eterno limitado. Afirma-se ali que a forma espiritual original da entidade viva é do tamanho de um milionésimo da ponta de um fio de cabelo. Também se afirma que o espírito é maior que o maior e menor que o menor. As entidades vivas individuais, que são eternamente partes integrantes de Deus, são menores que o menor. Com nossos sentidos materiais, não podemos perceber nem o Supremo, que é maior que o maior, tampouco a alma individual, que é menor que o menor. Temos de compreender tanto Ele, que é o maior que o maior, como aquele que é menor que o menor, a partir das fontes autorizadas da literatura védica. A literatura védica enuncia que a Superalma está sentada dentro do coração no corpo de toda entidade viva e é do tamanho de um polegar. Por conseguinte, o argumento pode ser proposto: como algo do tamanho de um polegar pode se acomodar no coração de uma formiga? A resposta é que essa medida do polegar para a Superalma é concebida em proporção ao corpo da entidade viva. Em nenhuma circunstância, entretanto, podem a Superalma e a entidade viva individual ser consideradas como uma, embora ambas entrem no corpo material de uma entidade viva. A Superalma vive dentro do coração para direcionar ou controlar a entidade viva individual. Apesar de ambas serem dhruva, ou eternas, a entidade viva está sempre sob a direção do Supremo.
Pode-se argumentar que, como as entidades vivas nascem da natureza material, elas são todas iguais e independentes. Na literatura védica, contudo, afirma-se que a Suprema Personalidade de Deus fertiliza a natureza material com as entidades vivas e, assim, elas surgem. Como resultado, o aparecimento das entidades vivas individuais não é, de fato, devido unicamente à natureza material, exatamente como uma criança gerada por uma mãe não é sua produção independente. Primeiro a mulher é fertilizada por um homem, após o que a criança é gerada. Desta forma, a criança gerada pela mãe é parte integrante do homem. De modo similar, as entidades vivas são aparentemente produzidas pela natureza material, mas não independentemente. É devido à fertilização da natureza material pelo pai supremo que as entidades vivas estão presentes. Portanto, o argumento de que as entidades vivas individuais não são partes integrantes do Supremo não é válido. Por exemplo, as diferentes partes do corpo não podem ser tomadas como iguais ao todo, senão que o corpo todo é o controlador dos diversos membros. Da mesma forma, as partes integrantes do todo supremo são sempre dependentes e são sempre controladas pela fonte que as originou. É confirmado no Bhagavad-gītā que as entidades vivas são partes integrantes de Kṛṣṇa: mamaivāṁśaḥ. Logo, nenhum homem em sã consciência aceitará a teoria de que a Superalma e a alma individual são da mesma categoria. Elas são iguais em qualidade, mas, quantitativamente, a Superalma é sempre o Supremo e a alma individual é sempre subordinada à Superalma. Eis a conclusão dos Vedas.
Guia de estudos:
1 – O que significa dizer que as entidades vivas são “cetana” ou “com conhecimento”?
Como podemos analisar o acaso dentro do Universo?
2 – Por que Krsna recomenda que abandonemos as religiões?
3 – Por que o mundo material é criado?
Explique o exemplo da chuva mencionado aqui.
Por que um desejo é considerado uma semente?
O que Srila Rupa Gosvami fala sobre “desejo pecaminoso”
4 – Explique a analogia de Ksrna e as entidades vivas e um pai com seus filhos.
Você acredita que se rendendo ao Senhor será protegida?
Tem alguma experiência neste sentido na sua vida?
5 – Você não acha que já que Deus criou o mundo, Ele é responsável por todo o seu desenvolvimento?
Leia o exemplo da nuvem e da vegetação.
Você acha que realmente se encaixa nesta ideia?
6 – Entendido que a criação deste mundo é também misericórdia do Senhor, o que podemos dizer sobre a diferença entre a visão dos impersonalistas e dos personalistas?
7 – Os demônios que se fundiram no corpo de Krsna tem o mesmo destino que os companheiros do Senhor?
Por que?
8 – O que Krsnadasa Kaviraj Gosvami conclui com relação a este assunto que estamos estudando?
9 – Continuando com suas orações, os Vedas Personificados dizem ao Senhor que tanto Ele quanto as entidades vivas são eternos, mas qual seria a diferença entre eles?
10 – O que os Upanishads dizem sobre o tamanho da entidade viva e qual é a relação dela com o Supremo?
11 – Explique a analogia dada aqui sobre Deus e as entidades vivas e uma mulher que concebe um filho.
12 – Você poderia provar que a entidade viva é igual em qualidade mas não em quantidade em relação à Suprema Personalidade de Deus?
Você poderá recorrer à Bhagavad Gita, capítulo 15.
Material complementar para estudos:
Bhagavad gita capítulo 15: