É confirmado no Bhagavad-gītā que as entidades vivas são partes integrantes de Kṛṣṇa: mamaivāṁśaḥ. Logo, nenhum homem em sã consciência aceitará a teoria de que a Superalma e a alma individual são da mesma categoria. Elas são iguais em qualidade, mas, quantitativamente, a Superalma é sempre o Supremo e a alma individual é sempre subordinada à Superalma. Eis a conclusão dos Vedas.

A palavra significativa usada neste contexto é yan-māyā, ou cin-māyā. Na gramática sânscrita, a palavra māyāṭ é usada no sentido de “transformação” e também no sentido de “suficiência”. Os filósofos māyāvādīs interpretam que a palavra yan-māyā, ou cin-māyā, indica que a entidade viva é sempre igual ao Supremo. Contudo, é necessário considerar se este afixo, māyāṭ, é usado como “suficiência” ou “transformação”. A entidade viva nunca possui algo exatamente na mesma proporção da Suprema Personalidade de Deus. Desse modo, este afixo māyāṭ não pode ser utilizado para indicar que a entidade viva individual seja suficiente. A entidade viva individual nunca possui conhecimento suficiente; caso contrário, como poderíamos estar sob o controle de māyā, ou a energia material? Então, o vocábulo “suficiente” pode ser aceito apenas em proporção à magnitude da entidade viva. A igualdade espiritual do Senhor Supremo e das entidades vivas nunca deve ser aceita como homogênea. Cada entidade viva é individual. Caso se aceite a igualdade homogênea, então, com a libertação de uma alma individual, todas as outras almas individuais seriam imediatamente libertas. Entretanto, o fato é que cada alma individual está diferentemente desfrutando ou sofrendo no mundo material.
Como mencionado acima, a palavra māyāṭ é também usada no sentido de “transformação”; algumas vezes, ela é também usada para indicar “subproduto”. A teoria impersonalista é que o próprio Brahman aceitou diferentes tipos de corpos e que isso é Sua līlā, ou passatempo. Não obstante, existem muitas centenas e milhares de espécies de vida em diversos padrões de condições de vida, tais como seres humanos, semideuses, animais, pássaros e feras, e, se todas elas fossem expansões plenárias da Suprema Verdade Absoluta, não haveria a questão da libertação, porque o Brahman já seria liberto. Outra interpretação apresentada pelos māyāvādīs é que, a cada milênio, diferentes tipos de corpos são manifestados e, quando o milênio termina, todos os distintos corpos, ou expansões de Brahman, tornam-se automaticamente um só, finalizando com todas as diversas manifestações. Assim, no milênio seguinte, de acordo com essa teoria, o Brahman novamente se expande em diferentes formas corporais. Se aceitarmos essa teoria, o Brahman se sujeita a mudanças. No entanto, isso não pode ser aceito. A partir do Vedānta-sūtra, compreendemos que, por natureza, o Brahman é pleno de felicidade. Consequentemente, Ele não pode transformar-Se em um corpo sujeito a tantas condições dolorosas. Na verdade, as entidades vivas são partes integrantes infinitesimais do Brahman e, como tal, elas estão propensas a serem encobertas pela energia ilusória. Como explicado antes, as partículas do Brahman são como centelhas dançando alegremente no interior do fogo, mas existe a possibilidade de sua queda do fogo para a fumaça, embora a fumaça seja outra condição do fogo. Este mundo material é exatamente como a fumaça, e o mundo espiritual é como o fogo abrasador. As inumeráveis entidades vivas estão propensas a cair do mundo espiritual para o mundo material quando são influenciadas pela energia ilusória, e também é possível para a entidade viva ser liberta novamente quando cultiva o conhecimento verdadeiro e se torna completamente livre da contaminação do mundo material.

A teoria dos asuras é que as entidades vivas nascem da natureza material, ou prakṛti, no contato com o puruṣa. Essa teoria também não pode ser aceita, porque tanto a natureza material como a Suprema Personalidade de Deus existem eternamente. Nem a natureza material, nem a Suprema Personalidade de Deus pode nascer. O Senhor Supremo é conhecido como aja, ou não-nascido. De modo semelhante, a natureza material é chamada ajā. Ambos os termos, aja e ajā, significam “não-nascido”. Visto que tanto a natureza material como o Senhor Supremo são destituídos de nascimento, não é possível que eles gerem as entidades vivas. Entretanto, é aceito na literatura védica que, assim como a água em contato com o ar às vezes cria inúmeras bolhas, a combinação da natureza material e da Pessoa Suprema provoca o aparecimento das entidades vivas dentro deste mundo material. Como as bolhas na água surgem em diferentes formatos, as entidades vivas também aparecem em diferentes formas e condições, influenciadas pelos modos da natureza material. Desta forma, não é impróprio concluir que as entidades vivas que estão aparecendo dentro deste mundo material em diferentes formas, como seres humanos, semideuses, animais, pássaros e feras, obtêm seus respectivos corpos devido aos seus diversos desejos. Ninguém pode dizer quando tais desejos despertaram nelas, razão pela qual se diz, anādi-karma: a causa de tal existência material não pode ser identificada. Ninguém sabe quando a vida material começou, mas é fato que ela realmente teve um início, porque, originalmente, cada entidade viva é uma centelha espiritual. Assim como uma centelha que cai no chão tem um começo, a chegada de uma entidade viva a este mundo material tem um início, mas ninguém pode dizer quando. Embora durante o período da dissolução todas as entidades vivas condicionadas permaneçam fundidas na existência espiritual do Senhor, como em um sono profundo, seus desejos originais de dominarem a natureza material não são extintos. Novamente, quando há uma manifestação cósmica, elas surgem para satisfazerem seus desejos e, portanto, aparecem em diferentes espécies de vida.
As entidades vivas imersas no Supremo no momento da dissolução são comparadas ao mel. Na colmeia, os sabores de diferentes flores são conservados. Quando se prova o mel, não se pode distinguir que tipo de mel foi coletado de qual tipo de flor. O sabor do mel sugere que ele não é homogêneo, porém uma combinação de diferentes sabores. Outro exemplo é que, embora diferentes rios, por fim, se misturem com a água do mar, isso não significa que as identidades individuais dos rios sejam perdidas assim. Conquanto as águas dos rios Ganges e Yamunā se misturem com a água do mar, o rio Ganges e o rio Yamunā ainda continuam a existir independentemente. A fusão de diferentes entidades vivas no Brahman, na ocasião da dissolução, inclui a dissolução de inumeráveis tipos de corpos, mas as entidades vivas, juntamente com seus diferentes pendores, permanecem individualmente submersas no Brahman até outra manifestação do mundo material. O sabor salgado da água do mar e o sabor doce da água do Ganges são diferentes, e essa diferença existirá para sempre. Da mesma forma, a diferença entre o Senhor Supremo e as entidades vivas continua a existir eternamente, muito embora, na ocasião da dissolução, elas pareçam se fundir. Logo, a conclusão é que, mesmo quando as entidades vivas se libertam de toda a contaminação das condições materiais e se fundem no reino espiritual, seus sabores individuais em relação ao Senhor Supremo continuam a existir.

Os Vedas personificados continuaram: “Querido Senhor, nossa conclusão é que todas as entidades vivas são atraídas por Sua energia material, e é unicamente devido à sua identificação errônea como produtos da energia material que elas estão transmigrando de um tipo de corpo para outro sem se lembrarem de sua eterna relação com Você. Por causa da ignorância, essas entidades vivas identificam-se incorretamente com as diferentes espécies de vida e, especialmente quando elevadas à forma humana de vida, elas se identificam com uma classe particular de homem, ou uma nação particular ou raça ou suposta religião, esquecendo sua real identidade como servas eternas de Sua Onipotência. Devido a essa falsa concepção de vida, elas são submetidas a repetidos nascimentos e mortes. Após muitos milhões deles, se a pessoa desenvolve bastante inteligência por meio da associação com os devotos puros, ela chega à compreensão da consciência de Kṛṣṇa e sai da jurisdição da errônea concepção material”.
No Caitanya-caritāmṛta, é confirmado pelo Senhor Caitanya que as entidades vivas estão vagando dentro deste universo em diferentes espécies de vida, mas que, se uma delas se torna bastante inteligente, pela misericórdia do mestre espiritual e da Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, ela começa, então, sua vida devocional em consciência de Kṛṣṇa. Afirma-se que, hariṁ vinā na mṛtiṁ taranti: sem a ajuda da Suprema Personalidade de Deus não é possível livrar-se das garras de repetidos nascimentos e mortes. Em outras palavras, apenas o Senhor Supremo, a Personalidade de Deus, pode libertar as almas condicionadas do ciclo de repetidos nascimentos e mortes.

Os Vedas personificados continuaram a orar: “A influência do tempo – passado, presente e futuro – e as misérias materiais, tais como calor e frio excessivos, nascimento, morte, envelhecimento e doença são todos movimentos de Suas sobrancelhas simplesmente. Tudo funciona sob Sua direção”. O Bhagavad-gītā afirma que toda atividade material está ocorrendo sob a direção da Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa. Os Vedas continuaram: “Todas as condições da existência material são elementos perturbadores para aqueles que não são rendidos a Você. Não obstante, para aqueles que estão em plena consciência de Kṛṣṇa, essas coisas não podem ser uma fonte de temor”. Quando o Senhor Nṛsiṁhadeva apareceu, Prahlāda Mahārāja nunca teve medo dEle, ao passo que seu pai ateu enfrentou imediatamente a morte personificada e foi aniquilado. Portanto, embora o Senhor Nṛsiṁhadeva apareça como a morte para um ateu como Hiraṇyakaśipu, Ele é sempre bondoso e é o reservatório de todo prazer para devotos como Prahlāda. Assim, um devoto puro nunca teme nascimento, morte, envelhecimento ou doença.
Śrīpāda Śrīdhara Svāmī compôs um belo verso, cujo significado é: “Meu querido Senhor, sou uma entidade viva perpetuamente perturbada pelas condições da existência material. Fui quebrado em pedaços pela roda esmagadora da existência material e, por causa das minhas inúmeras atividades pecaminosas, enquanto existo neste mundo material, estou queimando no fogo abrasador das reações materiais. De uma forma ou outra, meu querido Senhor, refugiei-me aos Seus pés de lótus. Por favor, aceite-me e conceda-me proteção”. Śrīla Narottama Dāsa Thākura também ora desta forma: “Meu querido Senhor, ó filho de Nanda Mahārāja, associado à filha de Vṛṣabhānu, busquei abrigo aos Seus pés de lótus após sofrer enormemente nesta condição material de vida, e oro para que Você, por obséquio, seja misericordioso comigo. Por favor, não me chute, pois não tenho qualquer outro abrigo além de Você”.
A conclusão é que qualquer processo de autorrealização ou realização de Deus diferente de bhakti-yoga, ou serviço devocional, é extremamente difícil. Portanto, o abrigo no serviço devocional ao Senhor, em plena consciência de Kṛṣṇa, é o único caminho para se livrar da contaminação da vida material condicionada, especialmente nesta era. Aqueles que não estão em consciência de Kṛṣṇa estão simplesmente desperdiçando seu tempo e não têm prova tangível da vida espiritual.

O Senhor Rāmacandra diz: “Eu sempre dou confiança e segurança a qualquer pessoa que se renda a Mim e decida definitivamente ser Meu servo eterno, pois essa é Minha inclinação natural”. De modo semelhante, o Senhor Kṛṣṇa afirma no Bhagavad-gītā: “A influência da natureza material é insuperável, mas qualquer um que se renda a Mim pode facilmente superar a influência da natureza material”. Os devotos não estão de forma alguma interessados em discutir com os não devotos com o propósito de derrubar suas teorias. Ao invés de desperdiçar tempo, eles estão sempre ocupados em serviço transcendental amoroso ao Senhor em plena consciência de Kṛṣṇa.
Guia de estudos :
1 – Leia o significado da palavra “mayat”.
O que Srila Prabhupada escreve sobre ela?
Agora explique com suas palavras a relação entre as entidades vivas e a Suprema Personalidade de Deus, baseadas no texto.
2 – Você acredita que cada entidade viva é individual?
3 – Explique a analogia do mundo material ser comparado com a fumaça e o mundo espiritual com o fogo.
4 – Fale sobre o fato de a Natureza Material e o Senhor Supremo serem não nascidos.
Qual é a analogia dada aqui para exemplificar esta ideia?
5 – Qual é o início da entidade viva no mundo?
O que acontece com a entidade viva no período da dissolução do Universo?
Explique as analogias do mel e dos rios.
6 – Como é possível que a entidade viva desperte sua consciência de Ksna enquanto vaga por repetidos nascimentos e mortes?
O que o Senhor Caitanya afirma sobre este ponto?
7 – Os Vedas Personificados atribuem a influência do tempo e as misérias materiais aos movimentos das sobrancelhas do Senhor.
Lindo não é?
8 – Por que um devoto de Ksrna não teme as condições materiais?
Qual é o exemplo citado aqui para corroborar esta ideia?
Fale sobre suas realizações na rendição a Krsna.
Você teme as condições miseráveis da vida?
9 – Você acha que quem não é um Bhakti yogui está desperdiçando sua vida?
Justifique sua resposta.
10 – Qual é a inclinação natural do Senhor Ramachandra citada aqui?
Pesquise sobre a história do Senhor Ramachandra.
Material complementar para estudos: